Suponhamos que .
“Suponhamos que eu seja uma criatura forte, o
que não é verdade. Suponhamos que ao tomar uma resolução eu a mantenha, o
que não é verdade. Suponhamos que eu escreva um dia alguma coisa que
desnude um pouco a alma humana, o que não é verdade. Suponhamos que eu
tenha sempre o rosto sério que vislumbro de repente no espelho ao lavar
as mãos, o que não é verdade. Suponhamos que as pessoas que eu amo sejam
felizes, o que não é verdade. Suponhamos que eu tenha menos defeitos
graves do que tenho, o que não é verdade. Suponhamos que baste uma flor
bonita para me deixar iluminada, o que não é verdade. Suponhamos que eu
esteja sorrindo logo hoje que não é dia de eu sorrir, o que não é
verdade. Suponhamos que entre os meus defeitos haja muitas qualidades, o
que não é verdade. Suponhamos que eu nunca minta, o que não é verdade.
Suponhamos que um dia eu possa ser outra pessoa e mude de modo de ser, o
que não é verdade.”
[Clarice Lispector] - Supondo o errado!
[Clarice Lispector] - Supondo o errado!
Suponho meu caro e minha cara que eu não mude nunca este meu jeitão de ver e encarar as coisas, você vai ter que deixar-me a beira da estrada, porque acho que esta minha suposição, não passa mesmo de uma suposição, e o pior tende a piorar muito.
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