portinha branca

Certos dias são como uma dor de barriga, acompanhada daquela caganeira, já começa cedo a agunia, a chatice, o mal humor, você passa mal o dia todo, aquela vontade, mas aquela vontade, se contorce, se aperta, aperta os lábios, range os dentes, mas o que fazer, tem que aguardar, alias esperar em todos os aspectos é uma tortura infinita, seja esperar num ponto de ônibus, o bendito farol abrir para não ter que ficar na subida, ou a resposta de um sms, ou simplesmente a hora daquele filme começar, esperar é o ato mais torturante de paciência que existe, a coisa fica preta quando se trata de esperar seja lá o que for, tipo torre de pisa nem pra lá nem pra cá, mas voltamos, então lá esta você, sua barriga, altos contorcionismos, altos sorrisos sem graça para disfarçar o aperto, quase não se aguentando, parece que todos os musculos estão em colapso, a sensação é sem dúvida de um aperto sem fim, bochechas vermelhas... derepente vc avista um bar, ou restaurante, ou qualquer coisa assim, que tem banheiro, no desespero, vc entra pede uma água e pergunta se pode usar o banheiro com toda a delicadeza possivel para o momento, aiiiiii que alivio, dizem pra vc ficar a vontade, você caminha na direção, já pensando que vai resolver um problema e arrumar outro, o barulho, ou o odor, ou as pessoas que vão estar fora, ou na fila do banheiro, enfim a coisa toda, funciona mesmo assim, afinal é uma dor de barriga com colica, caganeira na certa, e pela descrição já sabemos que vai ser tudo, menos cheiroso e confortável, ao chegar na placa "Banheiro feminino" você dá de cara com um imenso corredor, vai andando, um jardim cheio de flores e graminha molhadinhas, uma portinha branca, ao abrir a porta pensa na sua fobia de lugares pequenos e fechados, como são estes banheiros, pensa de novo no bendito cheiro e nas pessoas, e pensa na aflição se não tiver papel, entra, ao entrar seu sorriso estampa, seus olhinhos brilham, é um espaçoso e cheiroso banheiro, uma janela imensa que dá para a outra rua, vc esta no terceiro andar, sem chances de ninguém te ver, lá fora o corredor imenso esta com a placa ocupado, vc esta sozinha a uns 18 metros de qualquer ser humano, momento de extase total, você tira toda a roupa, senta, se alivia, vem tudo, ou melhor sai tudo, alivioooooo, delicioso alivioooo, alivioooooo gente, daqueles que aliviam até a alma, situação perfeita, olha pro lado depois de tudo e ve um velho e cheirosissimo "BOM ar" embora o ar condicionado esteje ligado, o que te deixou ainda mais tranquila, olha para o outro lado papel higienico a rodo, depois uma pia limpinha, sabão liquido e toalhas de papel, naquele momento, parece que a vida esta perfeita, refeita, depois do sufoco. Certos dias são assim, você passa aquele aperto, pensa no pior de tudo, já sente que nada vai dar certo, que ta cheirando mal e tals, e no fim, lá pelo entardecer surge aquela portinha branca, você pode sentar, se acalmar, afinal foi só um dia e já passou, uma fronteira entre estar bem e esperar que tudo fique bem, não crie expectativas ou fantasias, as vezes é caganeira, mas pode ser apenas um apertinho, qualquer peidinho já resolve.

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