Questões de uma mulher, numa noite qualquer, boêmia, um balcão num boteco a meia luz, com seu batom carmim.
Questões de uma mulher, numa noite qualquer, boêmia, um balcão num boteco a meia luz, com seu batom carmim.
Mulher da noite normalmente é um "mulher de vida fácil", duvido deste fácil, elas estão tão certas do querem, mas principalmente do que não querem, nos verbetes de uma garrafa a vontade de estar longe do cotidiano, de aproximar-se do ser para deixar de não ser, no atraso da paixão, uma canção para embalar a dor e a frustração de certos fatos do passado, de ontem, de hoje, durante o dia, nos lábios do vinho, palavras, disparadas, jogadas contra o nada que te consome, consomem e não te respondem nada (pelo menos não o que você deseja ouvir), no último pingo, no último gole do copo, encima do balcão, um sorrisinho, assim no canto da boca, um levantar de sobrancelha e o eterno observar, hoje ela saiu sozinha, percorreu bares, sentou em vários balcões, falou com diversas pessoas, estava sozinha de outros, mas muito bem acompanhada de si, confiante, poderosa, com a enorme cabeleira vermelha, os brincos gigantes, e o batom purpura, tranquilamente sozinha, para pensar, para beber, para descansar suas tantas tarefas e tantas outras responsabilidades, o lápis borrando o canto dos olhos… ’Boêmia na leitura da vida é simplesmente um jeito de ser, indiferente a algumas regras, do certo e errado, é a irreverencia ao quadrado, é muito mais ser tudo o que quiser e não ser nada se assim preferir, boêmia é trocar a noite pelo dia, regado sempre de boas companhias e conversas revolucionárias, é ser Drummond, Carmem Miranda, Audrey, os quatro garotos de Liverpool ou ser você, de um outro jeito,num outro formato, mais leve, porque o dia a dia é cansativo. Ser boêmio é misturar a madrugada, poesia, cultura e uma taça cheia, ou um americano para não esquentar a gelada, uma boa conversa só vale a pena quando merece um brinde, um convite daqueles, quer se sentar? Conversar um pouco? desabafar algo? três palavras deixa a gente bem... Hoje eu quero sair só, pensou ela, adorei este pensar, que já me vem a mente a muito tempo, porque sou uma companhia agradável a mim mesma, sei de segredos meus, absurdos, que não ousaria compartilhar e nesta noite quis, conversar comigo, tomar algo, comer um petisco e ficar ali analisando o quanto sou diferente e o quanto não desejo ser igual. Refletir, pensar na vida, ri de mim, observar as pessoas se namorando, se preparando no espelho no banheiro, retocando a maquiagem. Mulheres da noite, háaa sou uma delas, e gosto assim. Nesses momentos parece que o mundo para e nada envolta faz sentido de verdade, para que eu abandone estes meus pensares. A pedida é um sim de uma cerveja gelada, sentar-se num canto e apenas degustar, vendo o melhor de todos os filmes, o da tua vida, as vezes comédia, as vezes terror e muitas outras vezes drama barato. Toda a beleza do nosso poder de escolha… ah, como ela é linda, pernas grossas, olhar perdido no nada, única pra ela mesma, irreverente. E quando as idéias estiverem em ordem peça a conta - Hoje eu quero sair só, se levanta, paga a conta, liga o carro, liga o som, talvez Alcione, hoje ela esta assim, com vontade de um bolero, de andar sem rumo, sai para encontrar outro ambiente com sua eterna melhor companhia, ela mesma. Dizem que uma mulher madura e sincera com ela mesma é um pouco de tudo, e todas as qualidades lhe recaem bem, e os defeitos então, melhor ainda. Ser mulher como sou e amar a boêmia de estar contigo, ser pervertida e senhora das palavras e dos olhares alheios se, e quando eu quero, ser mulher assim é ser exemplo vivo para o mundo da razão e da imaginação, ser a senhora do sim e do não, mas de um talvez com uma certa dose de dúvida, um detalhe com total diferencial. Talvez ser mulher por inteiro esteja além das qualidades comuns das mulherzinhas comuns, estas de mini saia justa, que não atrai nada, pois as mulheres falam uma linguagem muitas vezes incompreensível, por vez se deixa levar pela experiência primordial, ser mulher assim é não ter hora para dormir e nem para proferir doces palavras, é ser o senhora muitas vezes do cinismo, do sarcasmo e da liberdade, é perceber no olhar a necessidade do afago e de um carinho, é saber conduzir a situação até aninhá-la em seus braços e fazer acontecer, é ser ousada ao adentrar a mente de quem quer com palavras sutis e sendo sutil saber conquistar. Sou destas mulheres que sempre tem mais uma ficha para uma última deixa, e uso meu olhar, para deixa-lo fascinado, pelos olhares de gueixa que em poucas mulheres ele encontra, no final de tudo, ser a mulher como sou, é ser um pouco de tudo e não ser nada mais do que ser quer, e sendo nada mais do que o que te agrada verdadeiramente, talvez faça parte de alguma coisa que para alguns é insignificante, mas pra mim é a grande sacada de viver.
Não me venha falar na malícia \ De toda mulher \ Cada um sabe a dor e a delícia \ De
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